quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Moro num país tropical


Até o Presidente Lula deu seu pitaco sobre o calendário brasileiro e a janela de transferências de atletas profissionais de futebol para o exterior, quando chegou a cogitar, para espanto de quem tem um pingo de bom senso, uma lei que proibisse a ida dos jogadores para outros cantos do mundo.


Apesar da total falta de nexo dos comentários do presidente (ou seria do, apenas, torcedor corinthiano ?), esta serviu para criar um reboliço sobre o tema, algo que realmente merece uma análise aprofundada.


Dessa forma, surgiu no noticiário de hoje, que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, estuda uma mudança do calendário brasileiro, a fim de adequá-lo ao Europeu, protegendo o Campeonato Nacional da "Janela de Agosto", em que a maioria dos clubes é obrigada a se re-estruturar em meio ao campeonato.


Embora uma mudança no calendário seja realmente importante, deixa em aberto a discussão sobre a real solução do problema, que é muito mais sério, pois é de estrutura do negócio "futebol Brasileiro", uma vez que está alicerçado em conceitos de amadorismo e não de profissionalismo,


Além disso, cabe avaliar se as singularidades do nosso país, como o clime, se encaixariam em um "calendário Europeizado".


Vivemos, como diz o título, em um país tropical, cujo verão ocorre nos meses de desembro a março e a temperatura média nessa estação é escaldante. Logo, os primeiros meses do ano, por serem de verão no nosso país, são tradicionalmente reservados para as férias de um modo geral, e férias escolares principalmente.


Na Europa ocorre justamente o oposto. O verão se dá entre junho e setembro e é nesse período que ocorrem as principais férias no velho continente. Por isso que os campeonatos param nesse período. Esse é o motivo da janela ser em agosto. Existe uma outro espaço para transferências, porém menor, em janeiro, que é usada para pequenos retoques nos elencos dos clubes europeus.


Mas se aqui resolvêssemos impor o calendário de lá, teríamos um esvaziamento do nosso principal campeonato, talvez até maior do que o causado pela janela de transferências, dado que as férias desviariam grande parte do público para os estádios e para a mídia especializada.


É interessante constatar ainda que, alguns campeonatos europeus, com destaque para o Inglês, praticamente não param em dezembro. É possível assistir a jogos da Liga Inglesa apenas um ou dois dias após o natal e o mesmo depois da virada de ano, simplesmente porque os europeus viajam menos nesse período, devido ao frio, o que transforma essas datas em períodos de maior reclusão das famílias.


Portanto, justamente por sermos um "país tropical", talvez a simples alteração de calendário seja um verdadeiro "tiro no pé", desvalorizando a competição ainda mais. O que se deveria fazer, antes de mais nada, é reduzir as datas dos campeonatos estaduais para alongar o campeonato brasileiro por todo o ano, diminuir a importância da Copa do Brasil, pois atualmente, o Brasil é o único país no mundo que dá ao campeão de uma copa nacional o direito de participar da principal Competição Continental, fazendo com que Paulista, Juventude e Santo André tenham participado da Libertadores, como representantes brasileiros, mas apenas como coadjuvantes.


Mas é claro que essas decisões, as verdadeiras decisões, envolvem política, reduzem a importância das Federações Estaduais, escancaram a ineficiência dessas instituições, que apenas sugam os benefícios trazidos pelos grandes clubes e nada fazem para fortalecer os pequenos, e por esses motivos dificilmente serão tomadas.


Tentando olhar a metade cheia do copo, no entanto, é importante destacar que, ao menos, essa discussão ganha corpo, e somente esse fato já é uma evolução. Não há dúvida de que estamos evoluindo, mesmo que a passos de formiga e sem vontade....


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